O momento de introdução alimentar gera algumas dúvidas nas mamães: como saber o momento certo, quais os alimentos indicados, entre tantas outras.
E para que essa fase seja um grande aprendizado para você e o seu bebê, pedimos ajuda da Dra. Renata Vanz (CRN 38299), Nutricionista Funcional e Materno-infantil e Mestre em Nutrição – Metabolismo e Dietética, para responder algumas dúvidas comuns sobre a introdução alimentar. Vamos conferir?
1- QUANDO DEVE INICIAR A INTRODUÇÃO ALIMENTAR? COMO SABER QUE O BEBÊ ESTÁ APTO PARA INICIAR A ALIMENTAÇÃO?
A orientação pela Sociedade Brasileira de pediatria e Ministério da Saúde é que seja a partir dos 6 meses, sincronizado com maior maturidade do sistema digestivo e com aspectos que revelam que o bebê já está pronto para iniciar a alimentação: ele já consegue sentar-se sozinho, segurando o tronco, explora o ambiente, treina o movimento de pinça, leva o alimento à boca, ensaia movimentos mastigatórios e principalmente mostra grande interesse pela comida. Alguns bebês estarão prontos para andar mais cedo, e alguns mais tarde, o mesmo acontece com a alimentação. Sendo importante também considerar que com bebês prematuros precisamos pensar na idade corrigida.
2- COM QUAIS ALIMENTOS DEVEMOS COMEÇAR?
A introdução alimentar deve seguir preferencialmente uma orientação profissional, considerando particularidades fisiológicas, rotina e hábito alimentar familiar.
De uma forma geral, começamos com as frutas e uma papa principal, contendo praticamente todos os grupos alimentares, de forma colorida e variada de forma gradual e com a textura adaptada para o bebê. Posteriormente, de acordo com a evolução do bebê, introduzimos a segunda papa principal e mais alguns grupos alimentares (por exemplo as leguminosas, ovos, peixes e trigo).
Espera-se que aos 12 meses o bebê já esteja consumindo os mesmos alimentos da família, com a mesma textura e variedade.
3- QUAIS OS CUIDADOS DEVEMOS TER NA ESCOLHA DOS ALIMENTOS?
Os alimentos mais naturais e orgânicos são os mais recomendados, preparados com segurança microbiológica e oferecidos com formato e textura de forma que o bebê possa consumir com segurança plena.
O alerta fica para evitar ao máximo a introdução dos alimentos industrializados, contendo aditivos como corantes, conservantes, emulsificantes, açúcar, etc e alimentos cuja conservação, higienização e preparo não sejam de total confiança.
4- COMO PROCEDER COM O SAL E O AÇÚCAR?
O Sal deve ser introduzido em pequena quantidade somente após os 12 meses, já o açúcar, há recomendação de que seja oferecido somente após os 24 meses, porém prefiro orientar que seja postergado ao máximo, uma vez que é nos primeiros anos de vida que o paladar está sendo formado e naturalmente o bebê tem preferência pelo sabor doce, sendo mais difícil depois controlar o consumo. Naturalmente o bebê será exposto ao açúcar e doces em eventos sociais, festas, na escola, então não há pressa para que isso aconteça antes.
5- E OS LATICÍNIOS?
Em lactentes amamentados, não há necessidade de introduzir leite de vaca. Os derivados, preferencialmente pasteurizados, fermentados, coagulados ou na forma de queijos magros podem ser introduzidos a partir dos 12 meses. Bebês não amamentados devem consumir a fórmula infantil de acordo com as suas necessidades, sob prescrição médica ou de nutricionista e para os derivados o raciocínio deve ser o mesmo.
6- SUCO OU FRUTA?
As entidades científicas têm reforçado a orientação de evitarmos dar sucos em detrimento da fruta inteira, contendo suas fibras e nutrientes na sua forma integral, ou seja, um suco de fruta, mesmo natural será concentrado demais, e parte da fibra presente na fruta será descartada, desta forma não há estímulo para mastigação, para a saciedade e para um bom funcionamento intestinal, sendo uma prática que pode contribuir para a obesidade e diabetes tipo 2. Adicionalmente, é muito interessante que a criança conheça a fruta, seu sabor original, seu cheiro e a sua textura. Também pode dificultar posteriormente que o bebê aceite água pura, que é tão importante.
Após 1 ano, quando o hábito alimentar continua a ser estabelecido, pode-se oferecer sucos, limitando ao máximo de 120 ml ao dia e preparando preferencialmente com a fruta mantendo suas fibras e incluindo hortaliças para aumentar a oferta de nutrientes.
7- EXISTE ALGUM MÉTODO MAIS INDICADO? O QUE É O BLW?
O BLW vem despertando muito interesse pelas mães no momento da introdução alimentar. Ele pode ser traduzido como “desmame guiado pelo bebê”, que consiste em oferecer a comida em pedaços, de forma que o bebê se sirva sozinho. A ideia do BLW é de que assim que o bebê se mostre pronto para começar a comer, a comida seja oferecida a ele picada, em formas e tamanhos que eles sejam capazes de segurá-la com as mãos e levá-la à boca. Assim, a criança vai comer o que quiser e na velocidade que quiser, sem pressão por parte de quem está oferecendo. Isso o que a incentiva a ter maior confiança, desperta a curiosidade sobre os alimentos e, especialmente, faz da refeição um momento gostoso e divertido. Geralmente as famílias adotam técnicas mistas de BLW e técnica tradicional (alimentos oferecidos na colher). O importante é que, estando apto para praticar o BLW, o bebê seja mais participativo no momento de sua refeição.
8- E O BEBÊ NÃO ENGASGA?
Os engasgos. Somente oferecer alimento quando o bebê estiver sendo supervisionado, em formato pequeno que ele consiga mastigar e engolir, e sem apressá-lo e sem outras distrações. Atenção com alimentos com lisos e com formato redondo como uvas e tomate cereja por exemplo. Fazer 2 cortes transversais já minimizam o risco de engasgo. O mesmo cuidado serve para não deixar objetos pequenos (aproximadamente 3 cm) ao alcance da criança.
9- COMO PODEMOS CONTROLAR AS QUANTIDADES DE ALIMENTOS QUE O BEBÊ VAI CONSUMIR?
A quantidade é regulada pela criança. Nascemos com um mecanismo muito apurado de fome-saciedade e respeitar isso propiciará uma relação saudável da criança na hora de comer. Oriento sempre e oferecer um pratinho cheio e deixar sempre que o bebê mostre que está satisfeito, nessa hora pode-se oferecer o alimento novamente e caso se recuse, devemos respeitar. No início da introdução dos alimentos, a quantidade que a criança ingere pode ser pequena. Após a refeição, se a criança demonstrar sinais de fome poderá ser amamentada.
O guia alimentar para menores de 2 anos do ministério da saúde sugere quantidades para nortear a oferta dos alimentos, mas isso varia muito de acordo com particularidades de cada bebê.
10-A PARTIR DE QUAL IDADE DEVEMOS DAR ÁGUA PARA O BEBÊ?
Até os 6 meses, o leite materno contém a quantidade de água suficiente para as necessidades do bebê, mesmo em climas muito quentes. A partir dos 6 meses, juntamente com a introdução alimentar deve-se oferecer água pura, fervida ou filtrada. Recomenda-se oferecer com bastante frequência nos intervalos das refeições, com colher ou copo simples. Eventualmente para estimular o interesse do bebê, a água pode ser aromatizada com pedaços de frutas ou gotinhas de maracujá, laranja ou limão ou folhas de hortelã, cidreira bem higienizada.
11- QUANTAS FRUTAS POR DIA DEVEMOS OFERECER PARA O BEBÊ?
Salvo em situações específicas, após completada a introdução alimentar, recomenda-se que o bebê consuma 4 a 5 frutas ao dia (no café da manhã, lanches e após as refeições).
12- POR QUE OS PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS SÃO TÃO CONDENADOS?
Os produtos industrializados trazem muitos prejuízos, que vão desde contaminantes da embalagem, presença de aditivos como corantes que podem causar alergias, vício de paladar, como o glutamato, sódio, gordura saturada ou açúcar em excesso (aumentando o risco de doenças crônicas como obesidade, dislipidemias, diabetes e hipertensão), emulsificantes e conservantes que prejudicam a flora intestinal, sem falar que quando consumimos alimentos industrializados estamos nos desconectando dos alimentos na sua forma mais próxima do natural, que é a forma que mais preserva os nutrientes e as propriedades sensoriais.
O guia alimentar para a população Brasileira nos orienta a consumi os alimentos preferencialmente in natura, e em menor quantidade os alimentos minimamente processados (alimentos que sofreram pequena modificação, como congelamento, embalagem… sem, entretanto, conter grande carga de aditivos) e evitar ao máximo alimentos ultra processados.
13- O BEBÊ PODE COMER FRITURAS?
Prefiro não recomendar, mas também pode haver exceções, vai depender do tipo de alimento, em qual tipo de gordura é frito, temperatura, estado nutricional do bebê e a frequência de consumo.
Importante: sempre consulte o seu médico para saber quais os melhores cuidados com o seu filho. Lembre-se, cada criança tem a sua particularidade e isso não pode ser ignorado.